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Gentileza é uma tendência passageira ou um valor eterno?

Até quando essa dúvida será pauta?

Vamos, então, conhecer a origem dessa habilidade tão louvável e rara.

Te convido a explorar as raízes da gentileza para entender sua importância. Nesse artigo, eu embarquei em uma jornada para tentar desvendar como a gentileza moldou nossa evolução e pavimentou nosso caminho até o presente.

O mais forte sobrevive ou o coletivo prevalece?

Para começarmos, é importante resgatar algumas ideias sobre a evolução da nossa espécie.

Talvez o cientista mais famoso que tenha estudado esse assunto é o Charles Darwin, muito conhecido por ter proposto a chamada Teoria de Evolução das Espécies.

De maneira simples, o objetivo dessa teoria era explicar o porquê algumas espécies se desenvolverem muito bem no seu ambiente, enquanto outras simplesmente deixaram de existir.

Depois de observar vários tipos de animais e também os seres humanos, ele atribui isso ao fato de algumas espécies serem mais adaptadas do que outras – o que ficou conhecido como seleção natural.

Tem uma frase muito usada até hoje para ilustrar esse pensamento que é a “sobrevivência do mais forte”.

Ou seja, os animais mais fortes, agressivos e imponentes sobrevivem, enquanto os mais fracos morrem.

Essa ideia impactou tanto o nosso modo de pensar até hoje que o comportamento de competição está enraizado na sociedade. Aposto que você consegue lembrar de várias situações e pessoas…

Acontece que a lei do “mais forte” não deve ser considerada como uma diretriz definitiva na convivência humana, pois essa conduta desconsidera a riqueza da diversidade e a complexidade das interações sociais.

A gentileza é uma força transformadora que promove a harmonia e a cooperação entre as pessoas. Ao adotarmos a gentileza como princípio, valorizamos a empatia, o respeito mútuo e a construção de relacionamentos saudáveis.

A regra do mais forte é algo prejudicial a longo prazo. Inclusive, essa ideia está também presente na lógica de muitas empresas através de uma visão de marketing agressivo.

Mas será mesmo que isso acontece na prática? Se sim, será que é a forma mais correta de se trabalhar?

O papel das empresas

Dentro das empresas, a aplicação da “lei do mais forte” pode ser observada em ambientes competitivos, nos quais a busca pelo sucesso muitas vezes é interpretada como a supressão do outro.

Isso pode resultar em uma cultura organizacional baseada na rivalidade, onde as pessoas mais agressivas ou dominantes são favorecidas. Em qualquer trabalho isso é perceptível, se tornando algo comum no dia a dia.

No entanto, essa abordagem pode gerar desconfiança, conflitos e desequilíbrios na equipe, minando a colaboração e a criatividade. Em contrapartida, empresas que valorizam a colaboração, a diversidade de ideias e a gentileza criam um ambiente mais saudável e produtivo.

É nesse momento que entra o papel das empresas nas mudanças essenciais no ambiente de trabalho.

Ao promover a cooperação e o respeito mútuo, elas incentivam um engajamento genuíno e uma troca eficaz de conhecimentos, resultando em equipes mais coesas e soluções inovadoras.

Porém, ao mesmo tempo, as próprias empresas promovem a cultura da “lei do mais forte”.

Sabendo disso, como é possível reverter essa lógica?

Quais as demandas das empresas para que a gentileza se sobressaia?

Confira cinco atitudes necessárias para que essa mudança aconteça.

1. Fomentar uma cultura de valorização humana

No ambiente de trabalho, as empresas desempenham um papel crucial na promoção da gentileza como prática diária. Ao priorizarem a valorização humana e incentivarem a empatia entre colaboradores, as organizações criam um ambiente propício para a construção de relacionamentos saudáveis e respeitosos.

Infelizmente, que acontece ainda em muitas empresas é exatamente o contrário. O principal foco é o lucro e o resultado, deixando os seres humanos um pouco de lado.

Mas, sabemos também que há muitas organizações se esforçando para melhorar!

As empresas contribuem para a formação de equipes coesas e comprometidas ao valorizar e recompensar a gentileza, incentivando assim o alcance de objetivos comuns por meio de um tratamento saudável.

2. Exemplos na liderança

A liderança desempenha um papel crucial na promoção da gentileza nas empresas. Líderes gentis exercem uma influência positiva, estabelecendo um padrão de comportamento que se propaga por toda a organização.

Ao longo do tempo, tornou-se comum exemplos de lideranças abusivas e tóxicas, como se isso fosse um sinal de autenticidade, positividade e comprometimento. No entanto, é evidente que esse tipo de liderança desestimula mais do que inspira.

Liderando com empatia, ouvindo atentamente, reconhecendo esforços e fomentando um ambiente de apoio mútuo, líderes estabelecem um exemplo a ser seguido. Essa abordagem não apenas eleva a moral e o bem-estar das pessoas, mas também inspira uma cultura de gentileza e respeito.

3. Exercitar uma comunicação aberta e inclusiva

A comunicação desempenha um papel fundamental na construção de um ambiente de trabalho gentil e inclusivo. As empresas podem promover a gentileza ao encorajar a comunicação aberta e honesta entre as pessoas.

Isso envolve ouvir atentamente as preocupações, ideias e feedbacks, sem julgamentos precipitados.

A gente sabe que muitas reclamações frequentes acontecem porque as pessoas se sentem acuadas em seu próprio ambiente de trabalho. Como resultado, quem está enfrentando problemas pessoais não se sente confortável em compartilhá-los nem com colegas mais próximos no trabalho. Infelizmente.

Ao criar canais de comunicação que valorizem todas as vozes, independentemente do cargo ou posição hierárquica, as empresas podem fomentar um senso de pertencimento e fortalecem os laços interpessoais, facilitando a colaboração e a construção de um ambiente harmonioso.

4. Incentivar a colaboração e reconhecimento

Empresas que valorizam a gentileza no ambiente de trabalho também fomentam a colaboração e o reconhecimento mútuo. Ao incentivar projetos em equipe, compartilhar conhecimentos e promover a ideia de que todas as pessoas têm contribuições valiosas a oferecer, essas empresas cultivam um senso de coletividade.

Além disso, a prática do reconhecimento, seja por meio de elogios públicos, premiações ou feedbacks construtivos, fortalece a autoestima e reforça a importância de reconhecer as realizações individuais e coletivas.

Esse ciclo virtuoso de colaboração e reconhecimento solidifica a gentileza como uma parte essencial da cultura organizacional.

5. Investir em programas de desenvolvimento pessoal e empatia

Para tornar a gentileza uma rotina no ambiente de trabalho, que tal ir além dos treinamentos de atendimento e vendas e investir em programas de desenvolvimento pessoal e empatia?

Além de capacitar, essas iniciativas promovem uma compreensão mais profunda sobre as perspectivas e desejos, cultivando a sensibilidade para as necessidades individuais e coletivas.

Projetos como workshops, treinamentos, palestras, aulas e atividades que abordem a inteligência emocional, a escuta ativa e a resolução construtiva de conflitos podem aprimorar as habilidades interpessoais de um time inteiro.

Fomentar o autodesenvolvimento com base na empatia é, ao mesmo tempo, fortalecer os alicerces para uma cultura de gentileza que transcende as interações profissionais, permeando as atitudes cotidianas em direção a uma sociedade mais inclusiva.

Ou, seja, as empresas desempenham um papel essencial ao criar um ambiente de trabalho que valoriza a gentileza como componente fundamental da cultura organizacional, contribuindo para a construção de comunidades mais harmoniosas e gentis.

Ao implementar ações que realçam o valor intrínseco da humanidade, promovem lideranças inspiradoras, facilitam a comunicação inclusiva, incentivam a colaboração e nutrem o desenvolvimento pessoal, as empresas contribuem para a formação de equipes mais coesas, produtivas, harmoniosas e, consequentemente, de pessoas mais capacitadas e dispostas para impactar positivamente o mundo.

Nesse contexto, a gentileza não é apenas uma alternativa, mas sim uma filosofia de vida e interação.

Portanto, investir em programas de gentileza é tão crucial quanto atender a outras demandas de um negócio.

Esse investimento financeiro se traduz em índices aprimorados de produtividade e harmonia nas empresas que incorporam tais práticas diariamente.

A gentileza como a chave para a sobrevivência

A gentileza sempre esteve associada aos nossos comportamentos sociais. Dacher Joseph Keltner, professor de Psicologia na Universidade da Califórnia, Berkeley, estudou o assunto.

Em seu livro “Born to Be Good”, que pode ser traduzido para português como “Nascemos para ser Bondosos”, o Dr. Keltner explica que a sobrevivência da nossa espécie não está atrelada a quem é o mais forte, mas sim a quem é mais gentil.

Em uma entrevista para o site Scientific American, o Dr. Keltner mostra a partir dos seus estudos que os seres humanos possuem tendências inatas para gentileza, generosidade e altruísmo.

Aliás, qualidades essas que ele e sua equipe consideram a base para comportamentos essenciais para a evolução humana.

Por exemplo, por mais forte e capaz que fosse um caçador na época das cavernas, quem sobreviveu foram as pessoas que viviam em tribos e compartilhavam alimentos e proteção. Afinal, somos uma espécie que vive em comunidade.

É por isso que os comportamentos de cooperação em grupos são tão importantes até hoje nas empresas.

Para chegar a essa conclusão, ele retomou os estudos do Darwin e percebeu que não faria sentido para uma espécie tão evoluída quanto a nossa ter comportamentos redundantes, que não impactam diretamente a nossa sobrevivência ao longo dos anos.  A não ser, é claro, que a gentileza fosse uma peça-chave no nosso quebra-cabeça.

a sobrevivência da nossa espécie não está atrelada a quem é o mais forte, mas sim a quem é mais gentil.

Assim, é enriquecedor refletir sobre como a gentileza se tornou essencial não apenas para a nossa sobrevivência, mas também para o nosso desenvolvimento como agentes de transformação na sociedade.

A sobrevivência do mais gentil

Embora a máxima da Teoria da Evolução das Espécies ainda esteja correta, na realidade, as pessoas mais adaptadas são aquelas que são mais gentis e altruístas.

No cotidiano, é desafiador realizar algo de forma totalmente independente.

É só pensar em um dia comum e contar quantas coisas você consegue fazer por conta própria, tanto na vida pessoal quanto no seu trabalho.

A verdade é que o nosso cotidiano e a sociedade onde nós vivemos é profundamente cooperativa em todos os aspectos.

Inclusive, Darwin argumentava em seus estudos como a nossa propensão à empatia e gentileza mútua é mais robusta do que o instinto de autopreservação.

O Dr. Keltner e sua equipe descobriram que alguns sistemas do nosso corpo respondem diretamente aos nossos comportamentos de gentileza e compaixão.

O que também explica os benefícios biológicos que experimentamos ao praticar atos de gentileza, como sentir-nos mais felizes e conectadas com as pessoas ao nosso redor. Em outras palavras, a gentileza é intrínseca à nossa identidade como espécie e está codificada em nosso DNA.

Isso evidencia que dedicar-se às pessoas proporciona bem-estar e qualidade de vida a longo prazo. No entanto, nossa cultura ainda enfatiza conquistas e metas individuais em detrimento das coletivas, gerando comparações e competições desnecessárias.

Porém, o próprio Dr. Keltner mostra alguns sinais de que essa mentalidade está mudando nos últimos anos.

Por exemplo, ele observou em seus estudos que novas formações para médicos e profissionais de saúde em geral estão trabalhando gentileza, compaixão e empatia como parte obrigatória do currículo.

Essa abordagem gera resultados mais eficazes para pacientes em tratamento. Especificamente, uma pesquisa da Universidade de Stanford revelou que pacientes apresentavam melhorias mais rápidas, experimentando menos dor e ansiedade.

Outro exemplo dessa mudança é que alguns programas de educação no mundo todo estão ensinando professores a trabalharem em sala de aula ferramentas práticas de empatia, respeito e gentileza.

O resultado? Estudantes mais felizes e mais hábeis a lidar com suas relações interpessoais. Ou seja, pessoas mais felizes, mais bondosas e mais inteligentes emocionalmente!

Além disso, nos últimos anos, tenho observado um aumento na compreensão de que valores como respeito, confiança e gentileza são fundamentais para o sucesso de qualquer negócio, tanto por parte de profissionais quanto de empresas.

Conclusão

Em última análise, ao considerar que a gentileza nos trouxe até aqui como base da cooperação, não tenho dúvidas de que ela é um ato de coragem e tem o potencial para nos conduzir ainda mais longe.

Gentileza é uma habilidade que tem o poder de gerar sentimentos positivos, mas frequentemente passa despercebida ou é considerada não importante pelas pessoas.

Sabe quem pode mudar essa realidade? Você que chegou até aqui. Sei que a leitura foi extensa. Obrigada por isso, ficarei mais feliz ainda se você me deixar saber nos comentários.

Vamos conversar!

Para você, gentileza é fraqueza ou coragem?

Compartilhe sua opinião e experiências sobre o assunto.

Até o próximo artigo.

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