Quem já se sentiu como um peixe fora d’água entende a importância do pertencimento.
O sentimento de pertencer é a “missão cumprida” da inclusão. Quando sentimos que verdadeiramente somos parte de algo, que nossa presença realmente importa, temos segurança psicológica para contribuir com todo nosso potencial naquilo que nos propomos a fazer.
À medida que estamos avançando sobre inclusão no ambiente de trabalho, fica cada vez mais claro que essa não é apenas uma questão de bem-estar pessoal, mas sim, algo fundamental para o sucesso dos negócios.
De acordo com dados da Deloitte, lideranças que criam uma cultura de inclusão têm o dobro de chances de alcançar ou superar suas metas financeiras da empresa.
Quando penso em como a inclusão se traduz em comprometimento dentro das organizações, é na liderança que vejo o fio condutor para isso – capaz de acender essa luzinha em cada pessoa.
Índice
A liderança inclusiva passa pela humanização
Na minha vivência próxima ao lado de empresas e profissionais que buscam um novo olhar para a liderança, percebo que trazer a inclusão para o jogo requer um componente muito próximo de nós, mas que muitas vezes perdemos pelo caminho: a humanização.
Recentemente, ouvi de uma colega:
Tenho medo de ser boazinha demais com as pessoas e elas não me enxergarem como autoridade aqui dentro.
Arrisco dizer que esse medo não é exclusividade dela. Em algum momento, fomos ensinadas que para sermos respeitadas em posições de liderança, precisamos assumir uma postura autoritária, centralizadora e dura.
Embora esse estilo de liderança possa gerar resultados numéricos positivos, acredito que não são sustentáveis ao longo prazo porque não considera as pessoas.
Pensa comigo: se inclusão é sobre entender de gente pra fazer com que todas as pessoas se sintam pertencentes, adotar uma postura distante da humanização parece contraditório, não?
Pra mim, a liderança humanizada está em entender as necessidades, os desafios e as aspirações individuais de cada pessoa para contribuir de forma construtiva com os seus objetivos. Isso inclui abandonar preconceitos, reconhecer as habilidades das pessoas e valorizar suas trajetórias para que se sintam incluídas.
Mas então, como adotar uma liderança humanizada?
Apesar do caminho padrão que nos foi ensinado, eu acredito em uma nova perspectiva, capaz de criar um solo fértil para que as pessoas se sintam pertencentes e desabrochem todo seu potencial nos negócios.
Para facilitar esse processo de transição e ajudar líderes a saírem do padrão, acreditamos que é importante olhar para 5 ângulos:
-
Atenção
Toda mudança que queremos realizar curiosamente começa com a gente. Antes de buscar estratégias para ser uma liderança inclusiva, é importante olhar para dentro e fazer um raio-x da forma como lideramos atualmente e como ela contribui para que o time absorva o tema da inclusão.
Esse é um momento de introspecção no qual nos questionamos sobre nossas próprias práticas de liderança e como elas podem influenciar a cultura organizacional.
Isso envolve examinar como lidamos com as diferenças, reconhecer nossas limitações, como promovemos a inclusão e como criamos um ambiente que valoriza a diversidade de pensamentos, experiências e perspectivas.
Algumas perguntas que podem te ajudar a refletir sobre isso:
“As pessoas se sentem pertencentes ao meu time independentemente das suas características pessoais?”
“Tenho criado espaços confiáveis para que as pessoas possam ser elas mesmas?”
“Consigo acolher todas as pessoas da mesma forma?”
“Tenho conhecimento sobre as práticas da empresa em caso de discriminação?”
“Tenho me preocupado em ouvir as pessoas e compreender suas necessidades?”
Além dessas reflexões, recomendo também o termômetro de diversidade e inclusão da Impulso Beta, uma consultoria de diversidade e inclusão e cliente do Marketing de Gentileza. Ele foi criado para identificar em qual estágio de maturidade empresas e líderes estão sobre o tema e identificar pontos de melhoria.
Ao refletirmos sobre nossas próprias práticas de liderança e como elas moldam a cultura, estamos construindo as bases para uma transformação genuína. Esse é um processo contínuo de autoconhecimento e aprimoramento, que contribui para um ambiente de trabalho mais justo, acolhedor e produtivo..
2. Empatia
Exercer a empatia nos permite alcançar novas visões antes completamente desconhecidas.
Eu acredito que nós nunca vamos conseguir nos colocar 100% no lugar da outra pessoa, porque não temos suas vivências e bagagens. A empatia, pra mim, é se permitir mergulhar em mundos que muitas vezes são bem diferentes dos nossos, mas que nos ampliam as possibilidades de conexões tão importantes para a inclusão.
Como líderes, não basta apenas realizar contratações que evidenciam a diversidade, mas sim, compreender a fundo as características, necessidades, desejos, jornadas e dores das pessoas que emergem nesse contexto. Isso é ter um ambiente preparado para incluir.
Nesse cenário, vejo a escuta ativa como uma das principais habilidades para uma liderança empática. Ouvir com presença e atenção estreita os relacionamentos, cria espaço para que as pessoas se sintam confortáveis em comunicar algo e abre portas para soluções realmente centradas nas pessoas.
Vi uma campanha incrível da Vult em parceria com a Dendezeiro e ela se encaixa perfeitamente no exercício da empatia.
As marcas identificaram que o capelo, aquele chapéu utilizado nas formaturas, não atende à diversidade de cabelos da população brasileira.
Então eles se aproximaram das pessoas que vivenciam isso e ouviram coisas como “Como pessoas negras, passamos por essa falta de inclusão também no momento das nossas formaturas”.
Pra mudar esse cenário, criaram o movimento #RespeitaMeuCapelo”, que envolve o redesenho de novos capelos a fim de atender a diversidade e beleza dos vários estilos, curvaturas e tipos de cabelo.
Pra saber mais sobre essa campanha, dá uma olhada aqui.
3. Humanização
Ao contrário do que se pode associar, ter uma liderança humanizada não significa que números, metas e produtividades não são importantes.
Significa que o caminho para atingi-los pode ser mais gentil e considerar o bem-estar e o acolhimento de todas as pessoas do time.
Para mim, a humanização e a inclusão são como dois lados da mesma moeda na liderança.
Enquanto a humanização estabelece relações genuínas entre líderes e equipes, permitindo uma compreensão profunda das necessidades e desafios de cada indivíduo, a inclusão surge como uma algo natural desse entendimento, criando oportunidades para que todos os membros da equipe se sintam integralmente inseridos e reconhecidos.
Iniciativas como a da Johnson & Johnson, que criou uma trilha de desenvolvimento de Diversidade e Inclusão (D&I) para a liderança, aproximam cada vez mais líderes de uma gestão humanizada, que reconhecem a importância de talentos diversos e criam espaços para cada pessoa se reconhecer como parte dos negócios.
4. Gentileza
A gentileza não é apenas um ato bondoso que fazemos no dia a dia. É um comportamento essencial para líderes que buscam ser mais inclusivos, humanizar as relações e, assim, se diferenciar no mercado.
Muitas pessoas podem confundir a gentileza com adotar uma postura boazinha o tempo todo. Mas a gentileza envolve, inclusive, ser firme em momentos difíceis.
Se temos times diversos, provavelmente as opiniões também serão diversas. É aqui que a gentileza entra: líderes gentis conseguem mediar conflitos ou divergências de pensamentos buscando sempre encontrar um ponto em comum para avançar na discussão.
Mais do que determinar o que é certo ou errado, trata-se de cultivar um ambiente onde todas as vozes sejam ouvidas e respeitadas, independentemente de concordarmos com elas ou não.
Líderes gentis compreendem que os melhores resultados são alcançados quando as conexões entre as pessoas são fortalecidas e os relacionamentos dentro da equipe são cultivados, mesmo diante de perspectivas divergentes.
5. Confiança
A confiança é a cola que mantém as relações sólidas e produtivas em um ambiente de trabalho.
Quando falamos em inclusão, a confiança torna-se um elemento ainda mais importante, pois favorece que as pessoas compartilhem suas ideias, assumam responsabilidades e comuniquem suas dores e desconfortos.
Construir e manter confiança leva tempo e precisa acontecer de forma consistente e autêntica. Líderes precisam demonstrar integridade, empatia e respeito em todas as interações com a equipe estão no caminho dessa construção.
No fim das contas, uma liderança baseada na confiança ao mesmo tempo em que promove a diversidade e a inclusão, também impulsiona o desempenho e a inovação, gerando resultados positivos tanto para os indivíduos quanto para a organização como um todo.
Uma maneira eficaz de medir a relação de confiança com os times é observar o nível de comunicação aberta e honesta. Além disso, feedbacks regulares, pesquisas de clima organizacional e avaliações de desempenho podem oferecer informações valiosas sobre o quanto as pessoas se sentem confortáveis no ambiente.
Essas 5 etapas que eu compartilhei são a essência do Marketing de Gentileza, método criado por mim em 2015 e com o qual venho trabalhando para construir marcas mais gentis e humanas. Ou seja, uma ferramenta que orienta empresas e pessoas rumo à humanização dos negócios.
Eu acredito que o caminho para o sucesso dos negócios que desejam se manter relevantes em um cenário cada vez mais competitivo está na humanização e inclusão das pessoas.